Na geriatria, por exemplo, são necessários três instrumentos para elaborar um diário: um caderno, uma caneta e um grampeador. Esse último serve para anexar as inúmeras caixas de medicamentos que os idosos consomem.
“Recebo pacientes que trazem, além do diário, sacolas enormes com caixas de medicamentos”, revela a geriatra Márcia Morgado, secretária-geral da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
O controle do receituário é um dos maiores desafios para pacientes idosos. Além de consumir diariamente muitos medicamentos, cada remédio segue uma lógica distinta. “Uns estão atrelados às refeições, outros ao ciclo circadiano, e outros ainda devem respeitar horários fixos”, enumera a médica.
A dose errada pode invalidar o efeito terapêutico, agravando a situação da doença. Ou pior: a dose errada pode fazer mal ou causar interações perigosas com outros medicamentos.
“O ideal seria haver uma única receita para o idoso, mas a saúde delicada de muitos deles os obriga a procurar vários especialistas. Cada um faz sua receita. Não é raro receber pacientes com quatro ou cinco listas de prescrições médicas”, afirma Márcia.
Ela explica que é função do geriatra unificar e, se possível, até simplificar todo este amplo receituário. E um diário pode ser o melhor aliado para isso. “O paciente deve anotar tudo: os medicamentos, a quantidade, os horários e também o efeito deles”, orienta. Assim são descobertas reações adversas indesejadas, que poderiam ser esquecidas até a próxima consulta.
“Se o idoso não tiver condições de organizar o próprio diário, isso deve ser feito pelo cuidador”, recomenda. A médica ainda esclarece que muitos problemas acabam sendo descobertos com auxílio de um diário. Por exemplo, o uso de fitoterápicos.
“Per serem medicamentos naturais, as pessoas acham que não fazem mal. Mas eles podem interagir com outros medicamentos e comprometer a eficácia deles”, esclarece a médica. Se o diário for bem feito e detalhado, ele revela o uso destes medicamentos e permite ao médico descobrir onde está a falha do tratamento.
Deslize na dieta
Para endocrinologistas e nutricionistas, receitar um diário serve para responder uma das perguntas mais recorrentes entre os pacientes: Por que não consigo emagrecer?
“A pessoa não sabe porque está engordando e imagina que isso acontece por alguma causa metabólica. Mas a maioria das vezes é por hábitos inadequados, como alimentação errada e sedentarismo”, aponta Giordana Maluf da Silva, endocrinologista do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos.
A médica explica que os pacientes costumam ter uma visão errada do que é muito ou pouco na contagem de calorias. “O paciente incorpora hábitos e nem percebe que eles são os culpados pela dieta fracassar”, explica.
A ingestão de bebidas alcoólicas, por exemplo, é um problema recorrente. “O paciente toma uma taça de vinho no almoço, bebe um chope à noite e não contabiliza essas calorias”, descreve. Uma taça de vinho tinto, em média, tem 80 calorias. Um copo de chope pode ultrapassar 100 calorias.
“O paciente diz que não ingere grande quantidade de alimentos e isso é verdade. Mas a ingestão de bebidas é que está somando calorias”, aponta.
O uso de azeite de oliva, que é positivo ao favorecer o colesterol bom, prejudica a salada de muitos pacientes, segundo a médica. “Uma colher tem 80 calorias, o mesmo de um pão francês”, compara. O paciente abusa pelo sabor, não conta a caloria, e não descobre depois porque ganha peso mesmo cuidado da dieta.
São problemas como estes que o médico identifica na alimentação da pessoa com auxílio de um diário bem detalhado. “Com algumas substituições na alimentação, a pessoa consegue emagrecer comendo mais do que o habitual e sem passar fome”, garante Giordana.
Evolução do treino
Para educadores físicos, o diário precisa ser elaborado com auxílio de uma régua. É preciso ter o treino registrado como uma planilha. “O treino registrado permite comparações. É preciso indicar frequência cardíaca, alimentação, pulso médio, pulso máximo, grau de motivação, horas de sono e horas de treino”, orienta o educador físico Marcos Paulo Reis, ex-técnico da seleção brasileira de triatlo.
Além dos referenciais objetivos, a pessoa deve anotar sua percepção de si mesma, como o grau de motivação e a sensação de cansaço. “O diário funciona bem para isso”, afirma.
Se a pessoa for praticante de musculação, deve inserir outros dados no controle. “Quantidade de exercícios feitos, tempo total de treino, quantidade de séries e repetições por exercício”, aponta o educador físico Rinaldo Rodrigues, professor de musculação. Além disso, a pessoa pode incluir suas medidas corporais.
O treino detalhado e a resposta do organismo ao treino são indicadores para o instrutor avaliar a estratégia adotada com o aluno e, dependendo do resultado, priorizar outros recursos. “Isso não é só para profissionais do esporte, qualquer pessoa pode fazer. Os esportistas amadores, que buscam condicionamento físico ou melhoria estética, são os que mais vão aprender”, destaca Reis. Ele explica que o diário para essas pessoas vai mostrar as variações de treino e como o organismo reage a elas, fornecendo um conhecimento maior a respeito do próprio corpo.
Quando usado contra doenças, o diário é uma forma de acompanhamento para o mesmo objetivo: amenizar sintomas, controlar ou curar a doença. Já para fins esportivos, profissionais ou amadores, os objetivos são variados e precisam estar explícitos no diário.
As metas podem variar entre ganho de condicionamento físico e massa magra, emagrecimento ou melhoria no desempenho esportivo. “Ter metas é fundamental. Quanto mais organizado e sistemático, melhor”, defende Reis. Mas não é preciso ter uma meta única e absoluta, pois isso pode desmotivas a pessoa pela distância a ser percorrida.
Quebre a meta em etapas menores, que possam ser alcançadas em pouco tempo. Isso dá incentivo a quem treina, ajuda a manter e até intensificar o ritmo dos treinos.